domingo, 4 de abril de 2010

Trovadorismo

O século XII legou-nos uma poesia de intenso lirismo, que concebia o amor como um culto, quase uma religião, e servia para endeusar a mulher e idealizá-la

Cantiga de Amor
Paio Soares de Taveirós
Como morreu quen nunca benhouve da ren que máis amou,e quen viu quanto receoud´ela, e foi morto por én: Ay mia senhor, assí moir'eu!Como morreu quen foi amarquen lhe nunca quis ben fazer,e de quen lhe fez Deus veerde que foi morto con pesar: Ay mia senhor, assí moir'eu!Com' ome que ensandeceu,senhor, con gran pesar que viu,e non foi ledo nen dormiudepois, mia senhor, e morreu: Ay mia senhor, assí moir'eu!Como morreu quen amou taldona que lhe nunca fez ben,e quen a viu levar a quena non valía, nen a val: Ay mia senhor, assí moir'eu!






Como morreu quem nunca amar
se fez pela coisa que mais amou
e quanto dela receou
sofreu, morrendo de pesar
Ai, minha senhora, assim morro eu

Como morreu quem foi amar
Quem nunca bem lhe quis fazer
e de quem Deus lhe fez saber
que a morte havia de alcançar,
ai, minha senhora, assim morro eu

Igual ao homem que endoideceu
com a grande mágoa que sentiu
Senhora, e nunca mais dormiu
perdeu a paz, depois morreu
ai, minha senhora, assim morro eu

Como morreu quem amou tal
mulher que nunca lhe quis bem
e a viu levada por alguém
que a não valia nem a vale
ai, minha senhora, assim morro eu.
Interpretação do texto
1. Que tipo de sentimento é exteriorizado nos versos “Como morreu quen nunca bem / Ouve da ren que mais “ amou” ?

2. Que expressão de tratamento demonstra a posição de vassalagem (submissão) do trovador em relação à mulher amada?

3. Na terceira estrofe o poeta assinala as conseqüências de um amor não correspondido. Quais são elas?

4. Em cada uma das estrofes o trovador descreve fatos que levaram quatro homens à morte. Que fatos antecedentes a morte de cada um deles?

Tema: não correspondência amorosa, fatalismo de amor.
Assunto: o sujeito lírico compara-se a alguém que morreu de amor porque a sua "senhor" nunca o amou "nunca ben/ouve da ren que mais amou" e, assim, também ele morre.
Recursos estilísticos:anástrofe: "ben/ouve" que reflecte uma certa tensão emotiva, que é bem sugerida pela paronomásia "ben/ren";
polissíndeto que cria uma certa progressão no discurso, para sugerir o trágico da situação, "e foi morto por en" que é bem reforçada pela gradação ascendente: ele nunca "ben/ouve", "receou d' ela e foi morto por en" e toda a tensão dramática se esgota no refrão, num queixume dado pela interjeição "ai" seguida da apóstrofe "senhor" e ele confessa a sua dor;
Paralelismo anafórico e semântico na segunda estrofe que continua numa progressão dramática através do polissíndeto, da gradação e da anástrofe; a aliteração da fricativa "v" em "e quen a viu levar a quen/a non valia, nen a val," parece aproximar-nos da realidade e imprimir o movimento da partida, juntamente com o imperfeito que dá o carácter durativo da acção.
Forma: cantiga de amor com refrão, coplas singulares, cada estrofe tem a sua rima de octossílabos agudos e os versos têm o seguinte esquema rimático: abbaC; rima emparelhada e interpolada.
Trovadorismo surgiu entre os séculos XII e XV, período da Idade Média e também do feudalismo. Teve origem no sul da França e foi o primeiro movimento do mundo ocidental.
Expandiu-se em virtude dos jograis provençais; o jogral era um artista do entretenimento, que divertia a nobreza e a expressão "Trovadismo", vem de "trovador", nome dado ao poeta da época.
O jogral era de nível social inferior ao trovador, que era o autor das cantigas, que as executava mediante ao recebimento do soldo.
As manifestações eram realizadas em cantigas, poemas cantados pelos trovadores acompanhados de instrumentos musicais como a cítara, a lira, a harpa, a viola e o alaúde, entre outros, mas também era por meio de versos em prosa que contavam novelas de cavalaria, como por exemplo, a obra "A demanda do Santo Graal".
Essa novela conta a história de aventuras de cavaleiros medievais escolhidos pelo Rei Artur, que procuram o Santo Graal – o cálice sagrado com que José de Arimatéia teria recolhido o sangue de Jesus Cristo.
As cantigas eram divididas em dois grupos: lírico-amorosa e satírica. O primeiro em formas de cantiga de amor e de e amigo; o segundo em cantigas de escárnio e de maldizer.
São algumas características das cantigas de amor: o eu - lírico é sempre masculino, retrata um amor impossível com uma mulher que é casada e pertence a uma classe superior à do trovador, segue uma forma de amor cortês.
Nas cantigas de amigo nota-se: o eu - lírico é feminino, apesar de escritas por homens; ao contrário da cantiga de amor, onde o sentimento não se realiza fisicamente, na cantiga de amigo (entende-se por amigo, o amado) há nítidas referências à saudade física do amigo ausente.
Os trovadores não só se dedicavam ao lirismo do amor, mas também gostavam da sátira, onde procuravam ridicularizar os hábitos e costumes da época, outros trovadores e as mulheres. As cantigas de escárnio eram críticas indiretas e irônicas. Já as de maldizer caracterizavam-se pelas críticas diretas e mais grosseiras que as de escárnio.
Vamos conhecer alguns exemplos das cantigas, em linguagem atual:
Cantiga de Amor: "A dona que eu sirvo e que muito adoro mostrai-ma, ai Deus! pois que vos imploro, senão, dai-me a morte! A que me fizestes mais que tudo amar, mostrai-ma onde possa com ela falar, senão, dai-me a morte".
Cantiga de Amigo: "Sem meu amigo sinto-me sozinha e não adormecem estes olhos meus. Tanto quanto posso peço a luz a Deus e Deus não permite que a luz seja minha."
Cantiga de Escárnio: "Conheceis uma donzela por quem trovei e a que um dia chamei Dona Beringela? Nunca tamanha porfia vi nem mais disparatada. Agora que está casada chamam-lhe Dona Maria."
Cantiga de Maldizer: "Ai, dona feia, foste-vos queixar de que vos nunca louvo em meu trovar; e umas trovas vos quero dedicar em que louvada de toda a maneira sereis; tal é o meu louvar: dona feia, velha e gaiteira."
As cantigas lírico-amorosas e as satíricas foram reunidas na forma escrita em cancioneiros, dentre os quais se destacam: Cancioneiro da Ajuda, o mais antigo, com 310 cantigas, quase todas de amor; Cancioneiro da Biblioteca Nacional de Lisboa, também conhecido como "Collocci-Brancutti", com 1.647 cantigas e Cancioneiro da Vaticana, com 1.205 cantigas, ambos com os quatros tipos.
O primeiro documento em língua portuguesa é provavelmente a "Cantiga da Ribeirinha", datada de 1189 ou 1198, escrita por Paio Soares de Taveirós. A interpretação oscila entre o lirismo e a sátira, mas também podendo ser uma cantiga de amor.

AS RAÍZES DA LITERATURA PORTUGUESA
- A cultura oral e o Trovadorismo de ProvençaO aparecimento da Literatura Portuguesa coincide, a bem dizer, com o aparecimento de Portugal como nação livre. A primeira manifestação literária portuguesa de que se tem notícia, a Cantiga da Ribeirinha (ou “Cantiga da Guarvaia”), de Paio Soares de Taveirós, é de aproximadamente 1198(?) e a independência do país data de 1143, ano em que Portugal tem reconhecida a sua emancipação dos Reinos Cristãos (Leão, Castela, Navarra, Aragão).
CANTIGAS TROVADORESCASO início da fase moderna na língua portuguesa tem como marco a publicação do poema Os Lusíadas, de Luis de Camões, em 1572, poema de unificação, renovação e enriquecimento sintático-vocabular da língua. O dialeto galaico-português era a língua utilizada pelos trovadores, que através dela nos legaram dois tipos de cantiga.a) lírico-amorosa: cantiga de amor e cantiga de amigo;b) satírica: cantiga de escárnio e cantiga de maldizer.CARATERÍSTICAS DAS CANTIGAS TROVADORESCAS CANTIGA DE AMOR
1– O trovador assume o eu - lírico masculino: é o homem quem fala.2– A mulher é um ser superior, pertence a uma categoria social mais elevada que a do trovador.3– Expressa a coita (dor, sofrimento) amorosa do trovador, por amar uma mulher inacessível, que não lhe corresponde e a quem rende vassalagem amorosa.4– O ambiente, culto e refinado, retrata a vida na corte.5– É de origem provençal (de Provença, região do sul da França).Paio Soares de TaveirósComo morreu quem nunca amarse fez pela coisa que mais amou,e quanto dela receousofreu, morrendo de pesar,ai, minha senhora, assim morro eu.
2– CANTIGA DE AMIGO1 – O trovador assume o eu - lírico feminino: é a donzela quem fala.2 – A mulher, campesina ou urbana, é de nível social baixo.3 – Expressa o sentimento de quem sofre por sentir saudade do amigo (namorado) que foi combater os mouros invasores.4 – O ambiente é rural ou familiar.5 – Teve origem em território galaico-português.Exemplo:Por muito tempo, ó amado,Sei eu que me dedicastesGrande amor e que ficastesMuito feliz a meu ladoFalo do tempo passado!Já passou. (João Garcia de Guilhade)CANTIGA DE ESCÁRNIO1– Cantiga de caráter satírico, em que o ataque se processa indiretamente, por intermédio da ironia e do sarcasmo.2– Criticava pessoas, costumes e acontecimentos, sem revelar o nome da pessoa ou pessoas visadas.João Garcia de GuilhadeAi, dona feia, foste-vos queixarde que nunca vos louvei em meu trovar;e uma das trovas vos quero dedicarem que louvada de toda a maneirasereis; tal é o meu louvar:dona feia, velha e sandia! CANTIGA DE MALDIZER1– Cantiga de caráter satírico, em que o ataque se processa diretamente.2– Criticava pessoas, costumes ou acontecimentos, citando o nome da pessoa ou pessoas visadas. D. Afonso X, o Sábio Trovas não fazeis como provençalmas como Bernaldo o de Bonaval.O vosso trovar não é natural.Ai de vós., com ele e o demo aprendestes.Em trovardes mal vejo eu o sinaldas loucas idéias em que empreendestes.Por isso D. Pero em Vila-RealFatal a hora em que tanto bebestes.
HIERARQUIA DOS ARTISTAS MEDIEVAISCANCIONEIROSNa hierarquia dos artistas medievais distinguiam-se quatro categorias:
a) o trovador: pessoa culta, fidalga, que não só escrevia a poesia, mas também era capaz de compor música e apresentar o seu trabalho, sem receber qualquer recompensa material;
b) o segrel: trovador profissional, geralmente um fidalgo decaído, que ia de corte em corte, de castelo em castelo com o seu executante (o jogral);
c) o jogral: designação que tanto poderia pertencer ao saltimbanco como ao ator mímico, ou simplesmente ao compositor; cantava nas festas e nos torneios as poesias de trovadores e segréis em troca de pagamento, às vezes, rivalizando com estes na elaboração da letra e da música;
d) o menestrel: músico ligado à determinada corte. Colecionadores sensíveis recolheram muitas das canções dos trovadores e organizaram coletâneas ou cancioneiros, dentre os quais os principais são:
- O Cancioneiro da Ajuda, possivelmente do século XIII ou do início do século XIV, contendo, na sua maioria, cantigas de amor, em 88 folhas de papel-pergaminho;
- O Cancioneiro da Vaticana, descoberto na Biblioteca do Vaticano, contendo 1205 cantigas, sendo cópia de um original extraviado;
- O Cancioneiro da Biblioteca Nacional, também conhecido por Colocci-Brancuti, nome dos seus últimos possuidores, contendo 1647 composições; pertence ao governo português;
- As Cantigas de Santa Maria, reunindo 426 composições acompanhadas da respectiva música.






PROSA MEDIEVALA partir do século XIII surgem as novelas de cavalaria, traduzida do francês e do inglês. Originariamente, eram poesias de temas guerreiros, chamadas canções de gesta, que passaram a ser redigidas em prosa.
De fundo teocêntrico e cavaleiresco, contavam as aventuras dos reis e seus cavaleiros; uma delas, a Demanda do Santo Graal, evocava o rei Artur e seus companheiros, que habitualmente se reuniam em volta de uma mesa – a távola redonda.
Todos se esforçam por descobrir o Santo Graal, a taça em que Jesus bebera durante a última ceia.Floresceram também formas paraliterárias: - os cronicões: livros de crônicas que deram origem ao início da historiografia portuguesa.- as hagiografias: vidas de santos;- os livros de linhagem (ou nobiliários): relações de nomes, geralmente de fidalgos, com a intenção de estabelecer graus de parentesco a fim de evitar casamentos entre parentes próximos e dirimir dúvidas no caso de heranças.
- Didaticamente, considera-se como marco final desta época o ano de 1418, quando Fernão Lopes é nomeado guardador da Torre do Tombo, assinalando o início do Humanismo em Portugal












Produção de texto
Grupo I

Refletindo o momento histórico da época (o feudalismo), o trovador (como se chamava o poeta de então) tratava a mulher como um ser superior a quem se deveria servir honrar e homenagear, comportando-se relação a sua dona com um vassalo diante do senhor feudal.

Entretanto, outros textos da época revelam que, ao contrário do que prometiam os poetas, as mulheres eram submetidas À autoridade do marido, da religião e dos costumes não dispondo de quase nenhuma liberdade

- Como você vê o relacionamento amoroso nos dias de hoje? Mudou muito em relação à época do Trovadorismo?
- Que direitos importantes você considera que a mulher conquistou no transcurso do século XX?


Produção de texto
Grupo II

O texto a seguir foi publicado na seção “Cartas do leitor” da Folha de SPaulo” Referida a um crime que teve repercussão na imprensa escrita e falada, esta carta da uma notável demonstração de machismo e desprezo pelas mulheres.
A recente morte violenta de uma jornalista choca a todos porque, nesse fato, o assassino foge do perfil comum de tais tipos, mas certas situações que levam a isso estão aí, nos círculos milionários, meios artísticos, esportivos de poder. Tudo porque o homem não aprende. Há milênios, gosta de passar aos demais uma imagem de eterna juventude e virilidade, posando com fêmeas muito mais jovens. Fingem acreditar que elas estão aí por amá-los. São poucas vezes atraídas pelo seu intelecto e muitas pela fama, poder e dinheiro. A durabilidade de tais ligações, no geral termina quando tal fêmea atinge seu objetivo. Pior ainda, quando essa fêmea mostra também intelecto de capacidade de sobrevivência com seu protetor. Duro, triste, real. (Laércio Zanini, Graça. SP)

a) O texto usa, em relação às mulheres, um termo fortemente conotado e lhes atribui um comportamento que as desqualifica. Transcreva uma frase em que o termo ocorre, associado à descrição de comportamento que desqualificariam as mulheres. Sublinhe o termo em questão na sua frase.
b) Quais os trações de caráter das mulheres contra os quais os homens deveriam se precaver, segundo o autor dessa carta?
c) A quem se refere o autor da carta na frase “o homem não aprende”?
d) Que semelhanças e que diferenças podemos estabelecer entre as cantigas do Trovadorismo?



Grupo III

Antes de escrever uma dissertação com o título “As mulheres no mercado de trabalho” reflita sobre os seguintes dados:

- As mulheres ocupam 41% do mercado de trabalho no Brasil

- Apesar de possuírem mais escolaridade do que os homens ganham menos do que eles.

- A taxa de desemprego é de 12,1% entre as mulheres e 7,9% entre os homens, 30% das mulheres que trabalham têm nível médio completo. Entre os homens, este percentual é de apenas 21%.

- O percentual de desemprego mais alto entre as mulheres é curioso, levando-se em conta que, em média, elas estudaram mais.

- As mulheres ganham, média, 48% do salário pago aos homens.
Obs.: Proporcionalmente não ocorreram grandes mudanças até o momento, além do aumento geral do número de desempregados no Brasil e da queda de renda da população.

Além disso, considere:

- A maioria das mulheres tem o que se chama de “dupla jornada”, pois, além de trabalharem fora, fazem o serviço doméstico.

- Existe um grande número de mulheres no trabalho informal, sem carteira assinada nem direitos trabalhistas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário