sexta-feira, 2 de abril de 2010

ENSAIO SOBRE A MULHER BRASILEIRA COMO SIMBOLO SEXUAL
de, Daniela Hilary

O presente ensaio tem como objetivo mostrar como a mulher brasileira é vista internacionalmente como ‘símbolo sexual’ e ‘mulher fácil’, apesar da sua luta nesses últimos 150 anos, o movimento feminista tem sido responsável por diversas conquistas das mulheres. No entanto, embora com muitas realizações e conquistando o direito de competir com o sexo oposto, muitas vezes com superioridade, em vários campos da atividade, porem, elas ainda vivem numa sociedade que lhe dá respostas ineficazes, a situação da mulher na sociedade brasileira continua com sérios problemas a serem resolvidos, como um dos mais antigo- já citado nesse parágrafo – símbolo sexual internacional.

Desde o inicio da historia do nosso Brasil essa ideia é oriunda de cartas, textos ou poesias declamados em sarais fotos de propaganda, TV, músicas e artes em geral. Como expressão de uma maneira de pensar, entre outras, vigente na sociedade brasileira. Com ou sem razão, durante séculos a imagem parece que continua a mesma. As brasileiras, aos olhos de outros países, continuam nuas e despudoradas.

Na época da colonização do Brasil, sabia-se que as portuguesas odiavam quando seus maridos, desbravadores e colonizadores, vinham ao nosso país.
O pesquisador Algranti diz que o corpo feminino deveria servir ao português, das praticas da sexualidade e da servidão no Brasil; tendo o objetivo de juntar sexualmente corpos de raças e etnias diferentes, em condições sociais igualmente diferentes. Muitas vezes isso aconteceu à força, sendo que os estupros eram comuns naquele tempo. Ao homem português era dado o direito de usufruir da vida de todos os habitantes da colônia. Esse direito ocorria devido à sua condição de “senhor” da família patriarcal.
No Brasil, o colono português imigrou sozinho. Não trouxe com ele sua mulher, os filhos, a mãe, a sogra. Também não carregou consigo seus utensílios e com isso segundo Ribeiro ele diz que as indígenas foram “utilizadas” pelos portugueses tanto para a sua satisfação sexual como para a expansão do “cunhadismo”. Ou seja, quando o português engravidava uma indígena, ele tornava-se parente dos outros indígenas da tribo. Vale lembrar aqui apenas o exemplo de João Ramalho, na Capitania de São Vicente, que teve 42 mulheres e mais de 80 filhos. Utilizavam-se do corpo e da alma da mulher indígena sem a preocupação de estarem-nas machucando.
Essas mulheres de condição inferior, brancas empobrecidas, índias e negras, carregaram sobre si a promiscuidade da colônia, pois, se a maioria das mulheres brancas de elite era casta, isso só foi possível devido à prostituição das outras mulheres, que, submissas e de condição social inferior, submeteram-se aos desejos sexuais dos senhores.

A minoria os esperavam nuas e cheias de sensualidade, prontas para entregarem-se em troca de pequenas bobagens, como , espelho, tecidos e outros. A imagem da mulher brasileira ( que vivia a cá, índia, negra ou branca) vista como símbolo sexual não iniciou com o turismo do nosso país, mas também desde o primeiro registro na carta de Pero Vaz de Caminha ao rei de Portugal, que descreve a nossa terra como aquela em que “Ali andavam, entre eles três ou quatro moças, bem moças e bem gentis, com cabelos muito pretos, compridos, pelas espáduas; e suas vergonhas tão altas e tão cerradinhas e tão limpas das cabeleiras que de as nós muito bem olharmos não tínhamos nenhuma vergonha’’. Caminha retorna à nudez das mulheres em diversos momentos da Carta, modulando a palavra "vergonha" de forma a recobrir um campo semântico onde as idéias-força são sexualidade, sensualidade e permissividade.
É de grande importância esse problema, pois essa mudança de estereótipo é lenta e para que outros países tenham uma visão ‘positiva’ das mulheres é preciso ter estratégias de mudança. Volto a fazer uma breve linha histórica para compreender o porquê dessa situação e visão.
No século XVIII destaco Domingos Caldas Barbosa, mulato brasileiro, filho de um português e uma angolana, educado na Universidade de Coimbra, que em sua poesia se preocupava em tratar das peculiaridades afetivas do povo brasileiro. Na história da música popular brasileira ele é considerado o criador da modinha brasileira, primeiro gênero de música popular. Nas suas canções exaltava tanto a beleza negra, quanto a sensualidade do amor de um mestiço: “Ah nhanhã, venha escutar/ Amor puro e verdadeiro, / Com preguiçosa doçura, / Que é Amor de Brasileiro”.

Percebemos também que o país erótico e exótico estava também na era do Romantismo, a transição de colônia para nação trouxe um forte sentimento de nacionalidade e apelo pelas índias que aqui viviam. Como por exemplo, o índio de Alencar é o um cavaleiro medieval – forte corajoso e belo; a sertaneja Mimosa, de Fagundes Varela, diferentemente das alvas e pálidas heroínas românticas européias, tem a pele morena e a sensualidade dos trópicos: “em tamanquinhos amarelos/ Pés de princesa, pés diminutivos, / Cútis morena revelando à vista / Do pêssego e do jambo os tons lascivos”
Já nas produções artísticas da Semana de Arte Moderna e o Regionalismo de 30, nessa época mostram o momento das vanguardas, do experimentalismo, da ruptura com o passado e a busca da nacionalidade. São contribuintes dessa fase Di Cavalcanti com suas mulatas e paisagens das favelas do Rio de Janeiro, Anita Malfati com seus mandacarus e cactos, Tarsila do Amaral com suas negras amas de leite, Mário de Andrade e seus mitos indígenas e estórias populares. Entre todos os literários da época não pode deixar de citar Jorge Amado que principalmente pelo seu sucesso editorial internacional, que atrai os olhares estrangeiros para um país favorecido pelo amor livre, pela sensualidade, pela beleza advinda da mistura de raças. Lembremos da historia Gabriela Cravo e Canela, romance, que virou filme e sucesso internacional.

A música brasileira dessa época também segue a mesma tônica de sensualidade, aquele do samba-choro Da cor do pecado de Bororó, de 1939: “Esse corpo moreno / cheiroso, gostoso / que você tem / é um corpo delgado / da cor do pecado / que faz tão bem...”.

O escritor e sociólogo Gilberto Freyre cita que até as comidas brasileiras, por influência das negras, são afrodisíacas: como a galinha, que figura em várias cerimônias religiosas, ou doces “por elas próprias enfeitados com flor de papel azul ou encarnado; mostra se que em nosso país não somente as mulheres , paisagens e o clima tropical exala erotismo. Um dos fatores que a imagem se denigre e generaliza lá fora.

Sendo assim digo que essa responsabilidade não é dos escritores e músicos e talvez nem seja da imprensa escrita, mas das imagens de fotografias que por décadas fizeram e ainda fazem parte do cenário de feiras internacionais de turismo destacando o perfil erótico da mulher brasileira, a divulgação desse tipo de publicidade, cria uma imagem negativa e contribui também os problemas sociais, ambientais e econômicos. E, infelizmente, a imagem da mulher brasileira que se vê lá fora nos dias de hoje é de mulheres nuas na praia e nos desfiles de carnaval.

Ressalvo também a imagem e comunidades do Orkut, pois há inúmeras comunidades com frases do tipo: ‘Nos brasileiras somos as mais gostosas’, e com fotos quase nuas ou nuas.
Acredito que esse estereótipo afeta as mulheres contemporâneas, embora muitas acham que sua prioridade não é ser bela. A beleza no Brasil pesa muito e não é a toa que muitas delas vivem para isso, ou seja, uma obsessão em chegar a essa perfeição. Não é a toa que o Brasil é um dos países onde mais são feitas operações de cirurgia plástica, sobretudo em lugares de praia.
Essa ideia da mulher ‘fácil’ não vai ser fácil mudar, mesmo que escritores, fotógrafos , músicos e outros do meio da mídia passassem a louvar a mulher brasileira pelos seus méritos e conquistas, como mostrar as que se destacam por seus feitos no mundo das ciências, das artes, dos negócios e ser mais educativo. Mostrar que os decotes escandalosos e as barrigas de fora com que as turistas brasileiras costumam escandalizar as ruas de cidades da Europa e nos Estados Unidos são apenas para certas ocasiões e certos locais. Mostrar o uso inteligente das tendências da moda.

‘’A nova fase da mulher brasileira’’ representa, também, a tentativa de desvincular a imagem do símbolo sexual. Como diz Fagundes. Apesar da desconfiança, apesar do preconceito, o indisfarçável preconceito mais visível nos países do terceiro mundo, embora também no mundo rico continuasse ecoando - e com que ênfase -! a famosa pergunta de Freud com aquela ironia perplexidade. "Mas afinal o que querem as mulheres”. Podemos dizer que até hoje boa parte das mulheres querem a independência financeira, batalham todos os dias por um país economicamente melhor e com todas as habilidades e responsabilidades de toda mulher.
Segundo a pesquisa realizada no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE) o rendimento de trabalho das mulheres, estimado em R$ 1.097,93, continua inferior ao dos homens (R$ 1.518,31). Em 2009, comparando a média anual de rendimentos dos homens e das mulheres, verificou-se que as mulheres ganham em torno de 72,3% do rendimento recebido pelos homens. Em 2003, esse percentual era de 70,8%. Já que com base no relatório da ONU no quesito igualdade dos sexos, o Brasil ocupa o 55º lugar.

Hoje a globalização mundial requer uma mulher polivalente, guerreira e bem centrada emocionalmente, que saiba e desenvolva, com eficiência, diferentes papéis na sociedade. Mais do que dona do lar, ela pode estar entre profissionais de renome, nas mais diversificadas funções, antes privilégios do homem, mas, ainda ganhando o seu salário bem menos comparando com o homem. Porém, é preciso afastar esse conceito aqui discutido e exaltar outras qualidades da mulher brasileira.

Fonte
AMADO, Jorge. Gabriela, Cravo e Canela. Rio de Janeiro: Editora Record, 2001.
FREYRE, Gilberto. Casa Grande & Senzala. [1936]. Rio de Janeiro: José Olympio, 1984.
Todorov, Tzevan. A conquista da América. A questão do outro. São Paulo: Martins Fontes, 1993. Trad. Beatriz Perrone Moisés.
ALGRANTI, L. Honradas e devotas: mulheres na colônia. Rio:J. Olympio, 1993.
AZEVEDO, F. A cultura brasileira. Brasília: UNB, 1996

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