domingo, 12 de abril de 2009

BREVE RELATO DE GÊNEROS DISCURSIVOS


Qualquer texto é parte repetição, parte criação, e textos são lugares de tensão entre as pressões centrípeta e centrífuga, segundo Bakhtin. Textos variam de acordo com o peso relativo dessas pressões, dependendo de suas condições sociais, de modo que alguns textos serão relativamente normativos, enquanto outros serão relativamente criativos.
Pressões centrípetas resultam da necessidade de produzir um texto sob condições dadas, de duas classes: a língua e a ordem do discurso – isto é, uma estruturação particular e histórica de práticas discursivas (produção de texto). Mais concretamente, uma pessoa evidentemente tem que usar palavras portuguesas e suas estruturas frasais para produzir um texto em português, e tem que selecionar entre os gêneros e discursos disponíveis na ordem do discurso.
As pressões centrífugas advêm da especificidade de situações particulares de produção textual, o fato de que as situações não se repetem infinitamente, mas são, ao contrário, infinitamente inusitados e incertos em novos modos. Textos negociam contradições socioculturais e, mais frouxamente, as diferenças que se fundam nas situações sociais; de fato, eles constituem uma forma na qual os embates sociais são expressos em ações. Por exemplo, com respeito à função ideal, as pessoas lidam textualmente com contradições e diferenças em crenças, conhecimentos e representações. Com respeito à função interpessoal, textos negociam as relações sociais entre pessoas em circunstâncias de dúvida e contestação, e as pessoas tentam elaborar textualmente, em seus usos de linguagem, os dilemas que enfrentam na defesa de suas próprias identidades.
Os produtores de textos não têm nada além das convenções da língua e ordens de discurso como recursos para lidar com as pressões centrífugas, mas são capazes de usar esses recursos em novas formas, gerando, por exemplo, novas configurações de gêneros e discursos.

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