domingo, 4 de julho de 2010

Verbo Ser - Carlos Drummond de Andrade

Verbo Ser

Que vai ser quando crescer?
Vivem perguntando em redor.
Que é ser?
É ter um corpo, um jeito, um nome?
Tenho os três. E sou?
Tenho de mudar quando crescer?
Usar outro nome, corpo e jeito?
Ou a gente só principia a ser quando cresce?
É terrível, ser?
Dói?
É bom?
É triste?
Ser; pronunciado tão depressa, e cabe tantas coisas?
Repito: Ser, Ser, Ser. Er. R.
Que vou ser quando crescer?
Sou obrigado a?
Posso escolher?
Não dá para entender.
Não vou ser.
Vou crescer assim mesmo.
Sem ser Esquecer.

Carlos Drummond de Andrade (Itabira - MG, 1902 - Rio de Janeiro, 1987)
Iniciou sua carreira em Belo Horizonte, onde viveu com a família. Seu irmão o incentivou na vocação literária. Mais tarde, vai para o Rio de Janeiro onde alguns de seus poemas começaram a ser divulgados. O ano de 1928 é marco importante em sua vida e em sua obra: nasce a filha Maria Julieta e publica em São Paulo o poema “No meio do Caminho”. Drummond, além de poeta, é um excelente prosador, de estilo marcado pelo humor e pelo ceticismo, ou seja, estado de espírito de quem duvida de tudo.

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