segunda-feira, 13 de julho de 2009

MAFALDA..ME GUSTA MUCHO!

Mafalda surgiu em um momento especial da realidade de seu país, a Argentina, exatamente no dia 29 de setembro de 1964, quando os ventos de uma ainda incipiente, incerta – e, infelizmente, pouco duradoura –, democracia liberal pareciam soparar com mais intensidade na região; foi herdeira de uma longa tradição de humor gráfico no país, aliada à influência dos quadrinhos "intelectualizados" de autores como Charles Schulz e Jules Feiffer.
(...)
A menina argentina não é o retrato traumatizado e neurótico de uma geração inadaptada, mas um microcosmos onde se confrontam sonhos e angústias pessoais, aspirações e inquietações coletivas. É comprometida com seu tempo, na época em que o mundo de adultos era incessantemente posto em causa pelas gerações mais novas, que aspiravam a um futuro diferente. Suas histórias eram uma outra forma de mostrar a manipulação e a moldagem das consciências individuais através de instrumentos tão terríveis como os meios de comunicação de massa (e, à cabeça de todos, a tv), a escola ou a autoridade do Estado.
(...)
Mafalda representa o inconformismo da humanidade, mas com fé em sua geração. Seus ódios mais nítidos são contra a injustiça, a guerra, as armas nucleares, o racismo, as absurdas convenções dos adultos e a sopa. Entre suas paixões estão os Beatles (a alegria, a liberdade que levaram na música), que por ela seriam os presidentes do mundo, Brigitte Bardot (na época personificava a namoradinha “francesa”), os direitos humanos, a paz e a democracia. Preocupa-se com a situação mundial, sobre a qual está constantemente atualizada pelo radio, ou lendo o caderno de política do jornal. Quando não está fazendo perguntas cabeludas aos seus pais, relata suas angústias com relação à humanidade aos amiguinhos. Espera cursar a universidade e ser alguém na vida, gosta de jogar xadrez, boliche e quer ser tradutora da ONU quando crescer, para que quando os embaixadores brigarem traduzir tudo ao contrário para que se entendam melhor e haja paz no mundo.
(...)
Mafalda rompe com a rotina prescrita em interações escolares, familiares e sociais. Em movimento de realinhamentos, ela é posta em atitudes de insubordinação e desobediência, enfrentando como, por exemplo, a sua professora, colocando seus posicionamentos em xeque, tentando levá-la ao ridículo, com insinuações de que ela, a professora, seja mediana, extemporânea, desengajada sócio-politicamente, ou, ate mesmo, idiota. Ao atuar desse modo, apresenta-se como adulto-crítico. Não é mais a criança que interage com a professora, numa relação de assimetria, mas um adulto que fala a outro, numa relação simétrica, com igual direito de manifestação de opiniões e atitudes de poder.


TRECHO DO MEU TRABALHO DE CONCLUSÃO DO CURSO DE LETRAS/ESPANHOL, APRESENTADO EM CONGRESSO - 2005.

Nenhum comentário:

Postar um comentário