quinta-feira, 1 de setembro de 2011

O AUTOR , SUA OBRA E SEU TEMPO.-FERNANDO SABINO

FERNANDO Tavares SABINO nasceu em Belo Horizonte, a 12 de outubro de 1923., filho de Domingos Sabino, procurador de partes e representante comercial, e sua mãe, Odette Tavares Sabino, t’pica doa de casa e mãe mineira. Fernando era o caçula e bastante mimado. Fez o jardim da infância no Delfim Moreira, o curso primário no Grupo Escolar Afonso Pena e o secundário no Ginásio Mineiro, em Belo Horizonte. Ingressou na faculdade de direito em 1941. terminando o curso em 1946 na Faculdade Federal do Rio de Janeiro. Em 1944, quando estava no terceiro ano de faculdade, mudou-se para o Rio de Janeiro e foi nomeado oficial do Registro de Interdições e Tutelas. Mas não levou a sério sua atividade de estudante de Direito. Nunca foi se quer buscar o diploma de bacharel.
Fernando era o protótipo do bom menino: escoteiro exemplar (dos 9 aos 13) ; campeão mineiro de natação nado de costas, por uns quatro anos; jovem escritor de contos desde os treze anos; e, eventualmente, o primeiro da classe. Às vezes, deixava transparecer em crônicas que não valeu a pena ser tão prendado. Aos 13 anos escreveu seu primeiro trabalho literário, uma história policial publicada na revista Argus, da polícia mineira. Passou a escrever crônicas sobre rádio, com que concorria a um concurso permanente da revista Carioca, do Rio: quando era premiado, recebia cinco mil reis. Uniu-se logo a Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende e Paulo Mendes Campos, moravam em Belo horizonte e são amigos de Fernando desde o tempo de escoteiros até hoje. Em Belo Horizonte, os quatro moravam próximos uns dos outros: Fernando, na praça da Liberdade; Hélio, na rua Bernardo Guimarães; Paulo, na avenida Paraúna, que hoje se chama Getúlio Vargas, e Otto na rua Alagoas. Andavam o tempo todo. Podia-se fazer o percurso desses quatro endereços a pé, no máximo num quarto de hora. , Ainda na adolescência publicou seu primeiro livro, "Os Grilos Não Cantam Mais" (1941), composto de contos a que hoje não dá importância – sem motivo, pois eram muito bons para a idade e já delineavam o escritor que viria a ser. Enviou um exemplar a Mario de Andrade.e ele escreveu-lhe uma carta elogiosa, dando início à fecunda correspondência entre ambos. Anos mais tarde, publicaria as cartas do escritor paulista em livro, sob o título "Cartas a um Jovem Escritor" (1982). Em 1944 publica a novela "A Marca" e muda-se para o Rio.
Em 1946 vai para Nova York viajando no mesmo avião com Vinícius de Moraes. Foi para os Estados Unidos ser auxiliar do escritório comercial do Brasil em Nova York. De.sua estada lá, destaca algumas coisas importantes, tais como: aperfeiçoar o inglês, tomar conhecimento mais intimo com a obra de escritores de língua inglesa, ouvir jazz, aprofundar e aproveitar ao máximo a convivência com o compositor Jayme Ovalle, que lá vivia. Num sensível artigo “Suíte Ovalliana” (de Gente), Fernando Sabino presta testemunho de grandeza de alma de Ovalle, Neste período escreveu crônicas semanais sobre a vida americana que enviava regularmente para jornais brasileiros, muitas delas incluídas em seu livro "A Cidade Vazia" (1950). Em 1947 escreveu as novelas que compõe “A Vida Real” (publicado em 1952), texto muito voltados para uma preocupação de ordem literária, com muita especulação e muita perquirição. Resolveu escrever para fazer uma higiene Mental de pura brincadeira, sem a menor intenção de publicar e sem menor compromisso com a literatura, um livro que não teria fim. Escreveu umas sessenta páginas e parou. Às vezes, pensava em retomar, mas não ia para frente Anos mais tarde, Fernando mostrou o que já havia escrito à “mui nobre, distinta e formosa senhora dos seus afetos, dona Lygia Marina de Sá Leitão Pires de Moraes, de cujos seu coração é cativo” e a quem o livro acabou sendo dedicado. Ela adorou o trabalho e o entusiasmou a prosseguir. Incentivado, reescreveu o livro todo em dezoito dias. Sucesso de público e de crítica, “O Grande Mentecapto” acabou recebendo, em outubro de 1980, o Prêmio Jabuti. Em 1989 o livro serviria de argumento para um filme de igual sucesso, dirigido por Oswaldo Caldeira.
Em 1954 "Lugares-Comuns - Dicionário de Lugares-Comuns e Idéias Convencionais", como complemento à sua tradução do dicionário de Flaubert. Com "O Encontro Marcado" (1956), primeiro romance, abre à sua carreira um caminho novo dentro da literatura nacional.
Apesar de não ser militante político, Fernando Sabino viajou por todo o Brasil como auxiliar de Juarez Távora, candidato à presidência em 1955. Em 1963, foi nomeado redator do serviço público, em decorrência de colaboração regular que lhe encomendavam a Rádio Ministério da Educação e a Agência Nacional.. Morou em Londres de 1964 a 1966 e foi adido cultural da embaixada do Brasil em Londres, mantendo na BBC um programa semanal com a leitura de crônicas de sua autoria e tornou-se editor com Rubem Braga (Editora do Autor, 1960, e Editora Sabiá, 1967). Seguiram-se os livros de contos e crônicas "O Homem Nu" (1960), "A mulher do vizinho" (1962, prêmio Fernando Chinaglia do Pen Club do Brasil), "A Companheira de Viagem" (1965), "A Inglesa Deslumbrada" (1967), "Gente I e II" (1975), "Deixa o Alfredo Falar" (1976), "O Encontro das Águas" (1977), "A Falta que Ela Me Faz" (1980) e "O Gato Sou Eu" (1983). Com eles veio reafirmar as suas qualidades de prosador, capaz de explorar com fino senso de humor o lado pitoresco ou poético do dia-a-dia, colhendo de fatos cotidianos e personagens obscuros verdadeiras lições de vida, graças e beleza.
Viajou várias vezes ao exterior, visitando países da América, da Europa e do Extremo Oriente e escrevendo sobre sua experiência em crônicas e reportagens para jornais e revistas. Passa a dedicar-se também ao cinema, realizando em 1972, com David Neves, em Los Angeles, uma série de minidocumentários sobre Hollywood para TV Globo. Funda a Bem-te-vi Filmes e produz curtas-metragens sobre feiras internacionais em Assunção (1973), Teerã (1975), México (1976), Argel (1978) e Hannover (1980). Produz e dirige com David Neves e Mair Tavares uma série de documentários sobre escritores brasileiros contemporâneos.
Publicou ainda "O Menino no Espelho" (1982), romance das reminiscências de sua infância, "A Faca de Dois Gumes" (1985), uma trilogia de novelas de amor, intriga e mistério, "O Pintor que Pintou o Sete", história infantil baseada em quadros de Carlos Scliar, "O Tabuleiro de Damas" (1988), trajetória do menino ao homem feito, e "De Cabeça para Baixo" (1989), sobre "o desejo de partir e a alegria de voltar" - relato de suas andanças, vivências e tropelias pelo mundo afora.
Em 1990 lançou "A Volta por Cima", coletânea de crônicas e histórias curtas. Em 1991 a Editora Ática publicou uma edição de 500 mil exemplares de sua novela "O Bom Ladrão" (constante da trilogia "A Faca de Dois Gumes"), um recorde de tiragem em nosso país. No mesmo ano é lançado seu livro "Zélia, Uma Paixão". Em 1993 publicou "Aqui Estamos Todos Nus", uma trilogia de ação, fuga e suspense, da qual foram lançadas em separado pela Editora Ática, as novelas "Um Corpo de Mulher", "A Nudez da Verdade" e "Os Restos Mortais". Em 1994 foi editado pela Record "Com a Graça de Deus", leitura fiel do Evangelho, segundo o humor de Jesus. Em 1996 relançou, em edição revista e aumentada, "De Cabeça para Baixo", relato de suas viagens, "Gente", encontro do autor ao longo do tempo com os que vivem "na cadência da arte". Também em 96, a Editora Nova Aguilar Publicou em 3 volumes a sua "Obra Reunida". Em 1998 a Editora Ática lançou em separado a novela "O Homem Feito", do livro "A Vida Real", e "Amor de Capitu", recriação literária do romance "Dom Casmurro" de Machado de Assis. E ainda em 1998, além de "O Galo Músico", contos e novelas da juventude à maturidade, do desejo ao amor, a Record editou, com grande sucesso de crítica e de público, o livro de crônicas e histórias "No Fim dá Certo" - se não deu certo é porque não chegou ao fim. Também pela Record lança "A Chave do Enigma", onde diante do desafio da esfinge prefere ser devorado.
Em julho de 1999 recebeu da Academia Brasileira de Letras o maior prêmio literário do Brasil, "Machado de Assis", pelo conjunto de sua obra. O valor do prêmio, R$40.000,00, foi doado pelo autor a instituições destinadas a crianças carentes. O desembargador Alyrio Cavallieri, ex-juiz de menores, revelou que em 1992, todos os direitos recebidos pelo autor do polêmico livro "Zélia, uma paixão" também foram distribuídos a crianças pobres.

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